As Atividades de Vida Prática na Sala de Aula e em Casa

Tempo de leitura: 5 minutos

Em meu artigo anterior – primeiro de uma série na qual compartilho minha experiência como professora na Educação Infantil – quis exortar meus colegas professores, pedagogos e demais profissionais da educação a estabelecer uma parceria efetiva com os pais e as famílias. Sugeri que essa parceria deve se concretizar harmonicamente, com humildade e salutar subserviência e disposição da parte dos professores.

Estarmos abertos para dar ciência aos pais e famílias acerca do que planejamos em sala de aula é necessário. Somos nós, professores, que devemos ser os pioneiros nesse esforço de envolver os pais na educação escolarizada de seus pequenos. O que acontece na escola importa aos pais, e muito – não deve ser apenas papo de pedagogos!

Neste artigo, gostaria de compartilhar um achado que penso ser um grande auxílio no trabalho do professor de educação infantil que deseja ser bem sucedido com uma turma numerosa e inquieta. É também uma carta na manga do pai que deseja alfabetizar os filhos em casa. Trata-se da “normalização”.

O professor Carlos Nadalim mencionou o termo por diversas vezes em suas aulas do curso Ensine seus Filhos a Ler – Pré-Alfabetização. Mais tarde, tive a oportunidade de observar pessoalmente as crianças praticando atividades de normalização durante um encontro da catequese “Bom Pastor”.

Davi Miguel, 4 anos, separando feijões com a pinça (foto enviada pela leitora Débora)

Esses exercícios de normalização, em particular as atividades de vida prática (o prof. Carlos demonstrou algumas aqui), foram defendidos e largamente aplicados pela pedagoga italiana Maria Montessori. Não entrarei em teorizações desnecessárias, mas direi, em poucas palavras, o que há de crucial. Montessori e sua discípula Helena Lubienska de Lenval tomam essas atividades – as quais devem ser diversas: parear, coser, dobrar, varrer, pregar botões, verter líquidos ou grãos, fazer e desfazer nós e laços etc. – verdadeiramente como um trabalho sério, livremente escolhido, e portanto desejado pela criança. É ela quem escolhe o que fará e por quanto tempo fará. Por meio dos exercícios de normalização, a criança aprende – numa alegria serena – a se controlar e a ser organizada e independente, respeitosa e paciente com os outros. A criança torna-se responsável, confiante e concentrada. Isso traz  notavelmente uma felicidade real e imensa à criança, e a predispõe ao desenvolvimento cognitivo.

Estou consciente de que não serão poucos os pedagogos que verão com maus olhos tais atividades, julgando-as ultrapassadas, ou mesmo nocivas. Meu intuito aqui não é defender a adesão a quaisquer teorias pedagógicas. Entretanto, como uma professora atuante em sala de aula que quer o melhor para os alunos, devo me comprometer de coração se observo que uma determinada técnica ou método funciona na prática e se torna, justamente por isso, muito proveitosa em sala de aula, ainda que com justas adaptações. Ouso dizer: a experiência das crianças com tais atividades – sobretudo considerando o modo como são aplicadas e a finalidade  transcendente na referida catequese – extrapola delimitações pedagógicas pré-concebidas. Eu não poderia menosprezar um achado tão precioso! A meu ver, as atividades de vida prática poderiam ser uma das táticas adotadas pelos professores em salas de aula com muitos alunos. Para os pais que desejam instruir os filhos em casa – parcial ou integralmente – ou mesmo para aqueles que apenas pretendem deixar seus pequenos melhor preparados para uma leitura partilhada, elas são também uma ferramenta preciosíssima!

No ano passado, trabalhei com crianças de seis anos, prestes a ingressarem no Ensino Fundamental. Eu tinha uma preocupação óbvia e específica com a pré-alfabetização dessas crianças nesse último ano da Educação Infantil. Não poucas delas já liam e escreviam – decodificavam e codificavam – palavras curtas, monossílabas ou mesmo trissílabas. Porém, várias outras infelizmente não acompanhavam tão bem os exercícios. Mas por quê? Notei que, além das dificuldades relacionadas propriamente ao conteúdo e às habilidades de leitura e escrita, elas não tinham eixo, paciência, foco, concentração, respeito aos colegas no uso e divisão dos brinquedos e materiais… Antes de tudo, elas precisavam de ajuda para se acalmarem, para conseguirem controlar o corpo. Caso contrário, como predispô-las à aquisição de conteúdos, quaisquer que sejam?

Gostaria de atingir o máximo possível de crianças. Mas como elas conseguiriam desenvolver habilidades e competências mais específicas, se – como disse – muitas delas são agitadas, dispersas e não se concentram nas atividades? Bem, muitas podem ser as razões para tal falta de concentração, e casos específicos precisam ser investigados. Mas dou uma dica para os professores com classes numerosas: pesquisem sobre as atividades de vida prática e procurem criar estratégias viáveis para aplicá-las em turmas numerosas. E por que não contar com a ajuda dos pais nisso também? Estou convicta de que eles precisam conhecer ao menos um pouco do que se passa em sala de aula.

Francesco, 3 anos, transvasando líquido de uma jarra para outra

Considerando os diversos problemas de desconcentração ou indisciplina que podem surgir e se proliferar numa classe com muitas crianças (acostumadas a brinquedos industrializados e quinquilharias de plástico que tão facilmente se quebram), nós, professores, inevitavelmente precisamos realizar uma fase de preparação dos alunos, destinando um momento exclusivo para predispô-los à aquisição dos conteúdos propriamente ditos. Essa fase, penso eu, deve ser constituída pelos diversos exercícios de normalização.

Esse é o segredo de ouro que quis compartilhar com vocês, professores que atuam em salas de aula de Educação Infantil, mas também com os pais dos alunos a quem devemos servir de coração.


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1 comentário


  1. bom dia
    Eu estou no 7 semestre de pedagogia e gosto muito do material do professor me tira muitas duvidas
    porque eu posso ouvir qualquer hora e imprimir ,a minha amiga adorou alfabetizar seus filhos em casa ,esses videos me ajuda muito espero poder continuar contando com o material do professor
    obrigada um forte abraço

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