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Vivemos uma era eminentemente visual. Somos bombardeados por imagens digitais que nos chegam por meio de smartphones, tablets e gigantescos anúncios luminosos que, de tão brilhantes, ofuscam as estrelas do céu noturno. Apesar desse estímulo visual, entretanto, afastamo-nos cada vez mais de um encontro significativo com essa importante expressão humana chamada “arte”.
Que papel a arte deveria desempenhar em nossas vidas? Como iniciar o processo de envolvimento de nossos filhos com a arte?
Comecemos mencionando três pontos sobre as crianças e a arte. Em primeiro lugar, lembre-se que elas são maravilhosamente receptivas quando o assunto é exposição à arte. Se seu universo visual inclui objetos reais de arte, as crianças quase sempre desenvolvem um gosto pelo assunto.
Segundo, o termo “arte”, na acepção aqui utilizada, é bastante abrangente: inclui pintura, escultura, gravuras, mosaicos, móbiles e praticamente qualquer tipo de arte decorativa ou artesanato (a toalha de mesa bordada da vovó, aquela fivela de cinto em cloisonné, vitrais, objetos de cerâmica feitos à mão). Qualquer objeto no qual alguém tenha empregado algum esforço para torná-lo belo ou significativo pode ser qualificado, em minha opinião, como arte.
Agora, vamos com calma no terceiro ponto. Na qualidade de musicóloga e historiadora, gosto muito quando as crianças são levadas a reconhecer as “obras-primas”, seja na música, nas artes plásticas, no teatro ou na dança.
Mas uma meta realizável em menos tempo consiste em ajudar as crianças a entender o que constitui a arte: seus materiais, processos, funções e mensagem. Isso pode parecer complicado, mas é perfeitamente factível no dia-a-dia e não requer nenhum treinamento especializado.
Os materiais da arte
As crianças adoram saber do que algo é feito – seus componentes, sua mecânica, seus segredos! Gastar alguns minutos investigando a origem da fonte de luz em uma pintura treina o olho da criança para ver o mundo físico. Deixar que uma criança pinte um mural narrativo (um mural que conta uma história) no muro do quintal a conecta ao mundo da pintura romântica do século dezenove. Permitir que ela explore as ferramentas da arte – giz, aquarela, óleos, materiais de esculpir – rende bons resultados em sua capacidade de, no futuro, analisar a arte.
O olhar e o coração de uma criança podem ser igualmente impactados ao observar um artista profissional em ação, trabalhando com as ferramentas da arte. Talvez você tenha de procurar um pouco, mas observar um artista esculpir uma estátua em bronze pode ser uma experiência transformadora (para você e para seu filho).
A apresentação da arte
Explorar as formas de apresentação da arte também pode render bons frutos. Aqui vai um exercício que pode interessar às crianças. Procure em uma loja de artigos usados, ou naquele quarto onde a vovó entulha coisas antigas, por um quadro sem moldura. Vá a uma vidraçaria ou loja de molduras e, se possível, encontre alguém que possa explicar os princípios básicos envolvidos no emolduramento de quadros. Deixe que a criança escolha a moldura para o quadro. (Isso é um exercício; você não precisa comprar nada!) Desafiada a selecionar uma moldura, a criança deve analisar e decidir, de maneira concreta, como destacar da melhor forma as características da pintura.
De volta a casa, espalhe arte por onde puder: nos quartos, na cozinha, na varanda, sem se esquecer daquela parede branca do banheiro. Procure em antiquários ou lojas de artigos de segunda mão (brechós) por objetos visualmente interessantes: figuras em porcelana e vidro, artigos de tricô, artesanatos populares. Deixe a criança decidir onde posicionar os objetos de arte, semana a semana. Reveze o posicionamento dos objetos de arte em sua casa. Converse com seu filho sobre a diferença de impacto que os objetos causam, dependendo da iluminação e do local onde são posicionados.
Análise e crítica de arte
Mesmo crianças pequenas podem começar a fazer crítica de arte. Comece pela arte encontrada na casa de amigos e familiares. Procure principalmente por peças que são herança de família: “Por que você acha que o vovô trouxe esse quadro da Holanda quando ele emigrou para cá?” Ou, olhando para a colcha que a tia Bete fez, questione seu filho? “Por que você acha que ela usou azul liso nessa estrela e azul estampado em todas as outras?”
Ao passear pela cidade, ligue o modo “caça-arte”. Pare para apreciar itens decorativos e de arte exibidos em halls de entrada de hotéis, salas de espera, saguões de igrejas – onde vocês estiverem. Ajude as crianças menores a formular uma série de perguntas elementares, tais como:
- O que é isto? (uma pintura, uma gravura, um bordado, uma escultura)
- Há alguma placa indicando título e autor?
- Caso haja um título, ele combina com o que você vê?
- Como o objeto foi apresentado? (em uma moldura ornamentada, em uma moldura de metal simples; em um expositor)
- Como é a iluminação? (luz natural de uma janela ou clarabóia, um ponto de luz)
- Por que você acha que essa peça foi adquirida ou encomendada para ocupar esse lugar específico?
- Você acha que a obra é eficaz (atinge o objetivo do designer ou arquiteto)?
Recrie a dialética histórica
Crianças mais velhas podem ficar fascinadas pelas “batalhas” clássicas na história da arte, como a crítica mordaz escrita em Paris por Louis Leroy em 1874 depreciando as pinturas que mais tarde seriam consideradas obras-primas do Impressionismo. As crianças vão se surpreender ao aprenderem sobre a exposição de 1937 em Munique, de quadros tachados de “degenerados” por Adolf Hitler, muitos dos quais de autoria de respeitados artistas judeus. Incentive as crianças a aprender sobre esses momentos decisivos na história da arte e a debater os pontos fundamentais da situação, seja no contexto da época em que os fatos se passaram, seja segundo os valores da cultura visual de hoje.
Construa a narrativa
O objetivo é sempre construir uma narrativa sobre uma obra de arte. Independentemente da avaliação que a criança fizer, as múltiplas etapas dos processos de descoberta, envolvimento, análise e tirada de conclusões com certeza fortalecerão a receptividade do jovem para a arte. Haverá tempo suficiente, na vida adulta, para aprofundar o conhecimento sobre arte. Mas nada pode substituir a exposição à arte na infância, de uma maneira tangível, que vá além do conhecimento adquirido nos livros e fale diretamente ao coração, à mente e à curiosidade da criança.
Artigo de Carol Reynolds traduzido e publicado com permissão de Memoria Press. Original em: https://goo.gl/DGeKHR
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