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“Era uma vez quatro coelhinhos. Eles se chamavam: Flocos, Flux, Rabo de Algodão e Pedro.” Assim começa uma série de adoráveis contos sobre a vida e as aventuras de criaturinhas da floresta e animais do campo. Escritos por Beatrix Potter na virada do século XX, esses exemplares da boa literatura de imaginação conservam seu charme e continuam cativando crianças e adultos um século depois de sua publicação original. O título que abre a série – e sem dúvida o mais conhecido – é “As Aventuras de Pedro Coelho”.
A história gira em torno das confusões de Pedro Coelho, que vive com sua mãe e irmãs em um banco de areia próximo às margens de uma floresta. Pedro, o coelhinho levado, ignorando as recomendações de sua mãe, aventura-se na horta do sr. Severino.

Conforme a história se desenrola, Pedro é flagrado pelo fazendeiro, que sai à caça do pequeno intruso. Na tentativa desesperada de salvar sua vida, Pedro deve percorrer toda a horta ladeada por cercas, com seus vários becos sem saída e armadilhas, e discernir em que animais pode confiar.
Longe do tom ostensivamente moralizante das fábulas, a autora apresenta a ordem moral no próprio enredo da história. Depois de banquetear-se com as ervilhas e cenouras do sr. Severino, Pedro depara-se com o fazendeiro em pessoa. É então perseguido sob gritos de “Pega ladrão!” Pedro, embora escapando por pouco de um trágico fim nas mãos do fazendeiro, sofre as conseqüências de ter ignorado as advertências de sua mãe, enquanto suas irmãs, obedientes, são recompensadas com “pão, leite e amoras na hora do jantar.”

O objetivo da história não é transmitir uma lição moral, mas deleitar. Todavia, por se tratar de ficção de qualidade, ela imita a vida e, assim, histórias sobre famílias de coelhos que usam roupas e tomam chá conservam seu vínculo com a realidade. É de fato perigoso para coelhinhos aventurarem-se em busca de alimento na horta do sr. Severino: descobrimos que a sra. Severina transformou o próprio pai de Pedro em “recheio de torta” (uma ilustração vem complementar a narrativa). Na história de Pedro Coelho e na continuação da série, coelhos são parasitas de horta, leitões são bichinhos atrapalhados, raposas são animais astutos e galinhas são animais tolos.
É raro encontrar em histórias para crianças pequenas uma linguagem tão bela e variada como a que encontramos em Pedro Coelho. São muitas as variações na construção e na extensão das frases. A autora evita uma linguagem infantilizada e simplificações excessivas; em vez disso, emprega um estilo simples e elegante, ao mesmo tempo instrutivo e agradável. Assim, os passarinhos que ajudam Pedro a fugir “suplicaram que se esforçasse para escapar” antes que o sr. Severino o capturasse. Quando a sonoridade de um livro infantil agrada também aos adultos, é sinal de que foi bem-escrito.

O tamanho do livro é uma característica que a autora fez questão de enfatizar no momento da publicação original, a fim de que a criança pudesse manipulá-lo com facilidade. Os volumes de pequeno tamanho publicados por Frederick Warne são, assim, considerados o texto definitivo de quaisquer das histórias de Pedro Coelho. [Nota: a edição brasileira da Companhia das Letras preferiu adotar um formato grande, o que diverge da intenção original da autora.]
As delicadas e fartas ilustrações que acompanham o texto coroam a edição de Pedro Coelho. Nem caricatas, nem minimalistas, a beleza das ilustrações está na combinação entre o apuro realístico e as licenças da fantasia. Em Pedro Coelho, convergem cenas domésticas comuns e retratos realísticos do mundo natural: uma página mostra a mãe de Pedro colocando-o na cama para que se convalesça; outra, a gata branca olhando fixamente para o peixinho dourado, enquanto “a ponta de sua cauda balançava como se tivesse vida própria.”
Ver o mundo comum transformado no reino de mamães-coelho ralhando com seus filhotes, tentadoras hortas onde não se deve entrar, jovens coelhinhos desobedientes e aconchegantes tocas de coelho conduz o leitor àquela fascinação pelas coisas que nos são familiares. Com olhos curiosos de explorador, o jovem leitor começa a ver o mundo ao seu redor com novo deleite imaginativo: ele sorri ao flagrar um coelho “meter-se entre os arbustos”, ou pára para ouvir o chilreio nervoso de um pardal.
Artigo de Therese Conte traduzido e adaptado do inglês. Original aqui.
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Olá, o que vocês acham da série de livros, Diário de um banana?
Na escola, os amigos dos meus filhos gostam, mas não vi como uma boa indicação. Embora, segundo o autor, suas histórias não trazem nenhum tipo de mensagem, apenas o desejo da diversão. :/
Desde já, obrigado pela atenção.
Muito bom o blog.
Grande abraço.
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Oi equipe de Como educar seus filhos.
Este tipo de livro deleita os ouvidos do meu pequeno de 4 anos ele fica de boca aberta escutando, é claro que em um momento ele fala: “mãe cansei, deixa para amanhã” , más não demora e até no mesmo dia ele pede para ler de novo. Existem literaturas parecidas de outra autora pois dest autora já comprei todos os livros até os e-books que achei.
Agradecida.
Janette Arce