Por que as Crianças Adoram Ouvir Sempre as Mesmas Histórias?

Tempo de leitura: 5 minutos

Por que as crianças, até certa idade, adoram ouvir sempre as mesmas histórias? Muitas vezes, os pais se irritam com essa preferência infantil. Mas o fato é que seus filhos precisam da repetição, por um motivo muito simples. Conhecer tal motivo será de grande utilidade na educação dos pequeninos. É sobre isso que eu falo no vídeo de hoje. Confira!

No último vídeo, falei sobre a sensibilidade das crianças à ordem exterior e sobre a importância de levá-la em consideração, uma vez que ela pode ser responsável por algumas reações das crianças em determinados ambientes. Falei também sobre como é indispensável estabelecer uma rotina em casa para ensinar qualquer coisa às crianças.

Hoje resolvi tratar de um assunto um tanto polêmico: a irritação dos pais diante de crianças que sempre pedem as mesmas coisas. Como pai, você já deve ter passado por situações em que seu filho lhe pede uma mesma coisa várias vezes. Ouvir repetidas vezes “Pai, leia de novo aquela história” ou “Pai, vamos brincar disso outra vez” faz com que os pais se questionem por que as crianças querem tão insistentemente sempre a mesma coisa. Por que isso acontece e por que você não deve se irritar quando elas o fazem?

As crianças precisam nutrir um sentimento de previsibilidade. Elas possuem uma lembrança não só da relação de objetos presentes em um determinado ambiente, como também de narrativas e imagens que guardam na memória. Ora, a criança cria uma expectativa de que aquilo que guardou na memória poderá acontecer de outra maneira, mas ela não deseja que isso aconteça. Portanto, você precisa fortalecer esse senso de previsibilidade, repetindo leituras, jogos e brincadeiras para que a criança confirme que aquilo não se modificará com o passar do tempo. Quando você lê uma história para seu filho e no dia seguinte a relê, ele vai inevitavelmente comparar sua última leitura com a lembrança que guardou daquela do dia anterior e ficará tranqüilo ao perceber que nada mudou. Fortalecer esse sentimento de previsibilidade durante a infância é fundamental.

Nenhum pai leva seu filho para a cama e diz: “Filho, é possível que durante a noite eu sofra um infarto e amanhã não esteja mais aqui. Quero me despedir antecipadamente” ou “Filho, vou ao mercado, mas pode acontecer um acidente e eu talvez não volte para casa”. Embora exista um risco de que tais episódios aconteçam, nenhum pai em sã consciência diz esse tipo de coisas aos filhos. E não o fazem porque têm intuitivamente o desejo de fortalecer nos filhos a sensação de previsibilidade, pois sentem que precisam lhes dar alguma segurança e estabilidade.

Siga, portanto, sua intuição e mantenha a prática de reforçar certas repetições. Se seu filho pedir para você ler a mesma história por cinco vezes consecutivas, faça isso, pois dará cada vez mais segurança e tranqüilidade a ele. Essa prática, assim como o estabelecimento de uma rotina e a atenção à sensibilidade infantil à ordem exterior, fortalece na criança o sentimento de previsibilidade e, como conseqüência, a deixa mais segura.

As escolas geralmente também estabelecem uma rotina para as crianças. Ao entrar pelo portão, elas têm uma noção do que acontecerá durante o dia e esperam que isso aconteça. Essas repetições não são entediantes para elas; pelo contrário, fortalecem a noção de previsibilidade. Mas infelizmente as pedagogas modernas – sobretudo as brasileiras – insistem em teses absurdas de que as crianças não devem memorizar textos, porque isso seria “decoreba”.

É importante, portanto, que nós, pais, tenhamos paciência quando nossos filhos exigem de nós certas atitudes repetitivas. Não pense que, ao fazê-lo, a criança está dando ordens aos adultos. É preciso traduzir tais reações infantis como uma necessidade de segurança e previsibilidade. Se uma criança pede ao pai que leia uma história pela décima vez, no fundo ela está pedindo que ele fortaleça nela o sentimento de previsibilidade. É como se dissesse: “Pai, leia novamente essa história, pois receio que algo diferente possa acontecer enquanto você a lê”. Lendo a história novamente, você vai  tranqüilizar a criança, uma vez que a história permanece sempre a mesma.

Tendo essas orientações em mente, sugiro ainda que você siga uma dica preciosa dada pelo doutor Italo Marsili no curso Ensine Seus Filhos a Ler. Leve seu filho para a cama e diga-lhe: “Filho, durma com Deus e fique tranqüilo, porque o papai está aqui cuidando da casa. Se precisar de alguma coisa, pode me chamar”. Faça isso todos os dias, diga palavras de segurança para seu filho dormir tranqüilo e em paz. Faça o mesmo com outras atividades: leia a mesma história várias vezes, não há problema nenhum. Além disso, mantendo a rotina e dando mais tranqüilidade à criança, você perceberá que o foco dela aumentará gradativamente, assim como seu aprendizado dos conteúdos ensinados.

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